Minha mãe costuma dizer que se impressiona em como as pessoas são diferentes e como Deus tem capacidade de criar tantas variações do ser humano. Eu, por minha vez, respondo que as pessoas, na verdade, são todas iguais, pois realmente acredito nisso. Fundamentalmente, cada ser humano é igual ao outro.
Fiquei durante um ano trabalhando em um lugar público, vendo, literalmente, milhares de pessoas todos os dias. Com o tempo, aprendi a reconhecer padrões nas pessoas. Percebi a existência de cerca de seis grupos distintos que, após definidos, nunca consegui encontrar uma exceção. Todas as pessoas em que eu reparava, tentava e encontrava a qual padrão pertencia; sempre dava certo. Nunca cheguei a nomear tais grupos, todas as ideias estavam na minha mente e é possível que nem saberia representá-las em palavras (atualmente, já esqueci quais eram os padrões, entretanto não me interessam mais). Meu ponto é: embora as pessoas sejam diferentes, elas são basicamente iguais.
As pessoas não apenas se parecem fisicamente, elas também possuem a mesma atitude. Em situações idênticas, os indivíduos agem e reagem de forma semelhante. Os estudos sobre comportamento e funcionamento do cérebro se baseiam nesse princípio, pois somos humanos e, portanto, possuímos as mesmas características.
Porém, cada um de nós pensa diferente. Temos as nossas próprias experiências e idiossincrasias, que é aquilo que varia nossas reações individuais. Podemos pensar diferente e ter ideias distintas. E não precisamos gostar daquilo que aparentemente todo mundo gosta.
Em nossa espécie, existe uma “luta entre forças opostas” que nos motiva a ser diferente dos outros e, ao mesmo tempo, nos quer incluir em determinados grupos para compartilhar as mesmas atividades. A fase da adolescência é a que mais demonstra isso, quando se luta para deixar o mundo que nossos pais nos apresentaram, para percorrer um novo caminho e conhecer novas ideias; a forma dessa fuga se dá em se juntar a grupos excêntricos, praticando os mesmos atos e tornando-se iguais a eles. Dentro de um grupo, luta-se por sobressair-se em meio aos outros, para isso tendo que ser diferente (ao mesmo tempo sendo igual para agradar aos outros membros). Essa dualidade quase paradoxal muitas vezes é nos impulsiona a continuar vivendo (em alguns casos, no entanto, pode levar ao suicídio pelo fracasso inevitável).
Com o surgimento e a crescente acessibilidade da internet, é possível encontrar conteúdo – e também público para tal – em qualquer área, para qualquer gosto. Por sermos fundamentalmente iguais, é plausível encontrarmos pessoas com ideias e interesses em comum. A rede ajuda a encontrá-las, mesmo que estejam no outro lado do planeta; juntamo-nos a grupos que não necessariamente estejam numa mesma região, sem perder muito por isso (falta o contato físico, contudo estamos já aprendendo a superar essa falta).
O exemplo mais notável disso é o Twitter, especialmente pelo seu fator assimétrico, que permite às pessoas acompanhar as postagens de outras. Isso une pessoas de diferentes círculos sociais que têm interesses em comum. Além disso, permite a interação direta com pessoas que não estão cientes de sua existência. Contatar uma celebridade ou uma grande empresa, hoje em dia, está ao nosso alcance, a somente “alguns cliques de distância”.
O problema maior é que, na maioria dos casos, o desejo de ser igual supera o de ser diferente. As pessoas têm medo de ficarem sozinhas. Por isso, fazem concessões e aceitam aquilo que é culturalmente popular, mesmo que não seja exatamente aquilo em que de fato acreditam. É possível que não façam isso no nível consciente, porém é isso o que acontece: alguém prefere tornar-se igual aos outros (mesmo que isso vá contra as suas ideias primitivas) do que ser diferente e estar sozinho.
Tal fato é explorado pela mídia e pelas grandes corporações e instituições, que tentam agradar a todos de uma mesma forma, seguindo um padrão industrial acessível e barato. É importante para tais empresas que as pessoas pensem iguais e, por isso, tentam forçar ao máximo o gosto do público e se aproveitar disso (como exemplo, no caso mais específico da TV, cito os Reality Shows e as telenovelas). Eles são os pastores (não vamos confundir isso com religião) e nós somos as ovelhas. Todavia, não precisamos ser.
Ouvimos opiniões de todos os lados, todos querem dar seu palpite. Isso não seria uma coisa ruim se tais ideias viessem das próprias pessoas e não de conceitos fundados pelos “formadores de opinião”. A população muitas vezes age como um bando de papagaios e apenas repetem o que ouviram, sem se importar com os detalhes, com a veracidade e nem mesmo com a plausibilidade daquilo que dizem.
Para deixar de ser ovelha, não é necessário se tornar um pastor. Que fique claro que não existem apenas duas posições, porém é isso que nossa sociedade atual parece impor. Para deixar de ser ovelha, só se precisa pensar. Basta filtrar aquilo que se ouve e pensar antes de formar uma opinião. Como disse o apóstolo Paulo, cujos textos baseiam o cristianismo, “examinai tudo; retende o que é bom” 1.
É importante saber que toda opinião é passível de mudança. Se você suporta veemente e incondicionalmente uma ideia, seus princípios precisam ser revistos. Como já disse uma vez, você sabe que ganhou uma discussão quando aprendeu mais do que o outro (e é por tal coisa que as pessoas deveriam procurar).
Provavelmente o maior motivo de eu recusar a religião é porque ela se baseia em dogmas. Se existem fatos inerente e arbitrariamente indiscutíveis para poder sustentar uma ideologia, eu não consigo aceitá-la. A fé (e, por extensão, a esperança) é o melhor meio de manter as ovelhas juntas, pois fazem elas acreditarem em algo que não precisa fazer o menor sentido, visto que a fé é e deve sempre ser inquestionável por natureza. É importante acreditar que as coisas possam acontecer (já escrevi aqui sobre a importância da fé), porém é mais importante agir para que as coisas aconteçam.
Em suma, é importante parar e pensar; deixar a emoção de lado (ou melhor, deixar as atitudes puramente reacionárias de lado). Formar as próprias opiniões com base nas suas experiências e conhecimentos e não apenas aceitá-las porque foram providas de graça e/ou sem esforço. Esteja disposto, no entanto, a aprender com a opinião de outras pessoas e reformular a sua própria sempre que julgar necessário. Como diz a música de Raul Seixas: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. E tome cuidado: é muito fácil ser feliz quando se é uma ovelha.
Notes: