Nesse mês de novembro, como é tradição há vários anos (embora eu tenha particularmente descoberto apenas neste ano), ocorreu o NaNoWriMo. Apesar de se chamar “nacional”, o evento já se tornou internacional há um bom tempo. Para quem não conhece, a ideia é simplesmente escrever as 50 mil primeiras palavras de um romance em um mês.
Como já estamos no fim, não vale a pena eu colocar muitas coisas sobre o evento em si por aqui. Farei isso no próximo ano, com uma boa antecedência, pois ele ocorre sempre em novembro. Mas vale contar como foi minha experiência nessa minha primeira participação. Aprendi algumas coisas que compensa lembrar pelo resto do ano. Vou listar o que aprendi nesse tempo que gastei escrevendo feito um maluco (eu ganhei — sendo ganhar equivalente a escrever as 50 mil palavras — no décimo dia, e conclui o rascunho com pouco mais de 80 mil no dia 18, então realmente escrevi muito).
Cronômetros ajudam
Pode até parecer uma bobagem, mas contar o tempo para escrever e tentar botar o máximo de palavras no papel — seja físico ou virtual — é um exercício produtivo. Já falei aqui sobre algumas maneiras de superar o bloqueio criativo, e esta pode ser adicionada a lista.
Usando um cronômetro, percebi que consigo arrancar cerca de mil palavras em quarenta minutos. Quem está acostumado com digitação sabe que isso pode até ser devagar, mas pelo menos agora eu sei o meu ritmo e posso tentar melhorá-lo. Além disso, notei que compensa mais sessões mais curtas de escrita e algum intervalo de descanso. Agora sei que fazer sessões de quarenta minutos e descanso de vinte ou trinta me ajudam a produzir.
A tentativa de bater o próprio recorde de contagem de palavras é uma coisa que motiva a escrever e ajuda a banir o nosso editor interno. Por mais que seja útil nas revisões, esse ser crítico só atrapalha nos momentos quando o importante é a criatividade.
Existem vários programas simples para desktop e também para smartphones que ajudam a contar tempo (sim, também serve os cronômetros de cozinha). Já aviso que qualquer tentativa acima de quarenta minutos será bastante cansativa e provavelmente reduzirá a produtividade, mas vale a pena tentar descobrir seus próprios limites.
Todos ganham no NaNoWriMo
Por mais clichê que a frase possa parecer, é totalmente verdade sobre esse evento. Durante o mês, é costume organizar o que chamam de “word wars” que consiste em ver quem consegue escrever o máximo de palavras no mesmo tempo. Assim como o caso do cronômetro solo, a vontade de ganhar de um digitador veloz que também está participando ajuda a escrever sem parar. E nessa competição, quem conseguir colocar uma palavra no papel já saiu vencedor — afinal, você avançou na criação do seu livro.
Essas pequenas competições (que são baseadas em honor system, e ninguém precisa colocar o texto em lugar nenhum pra provar que realmente escreveu) ajudam a estreitar os laços da comunidade e receber incentivos de outras pessoas para escrever mais. Por mais que a profissão de escritor seja solitária, uns empurrões sempre ajudam a seguir adiante. Eu mesmo recorri ao chat da comunidade brasileira do evento muitas vezes quando me via empacado e sem vontade de escrever. Gostaria que tal chat ficasse ativo durante o ano inteiro.
Sem contar o fato de que escrever já é uma recompensa por si só. Para ganhar o NaNoWriMo oficialmente, é necessário chegar nas 50 mil palavras durante o mês, porém qualquer quantidade já é algo apreciável. Se você fez 20 mil, não pense que é pouco: já foi mais do que muita gente fez (e isso inclui as pessoas que simplesmente não fizeram nada). O evento é uma conquista pessoal, então tente superar a si mesmo.
O primeiro rascunho sempre será horrível
Por mais que você seja perfeccionista, a primeira versão de um texto é sempre ruim. Tentar voltar e consertar as coisas só te atrasa no avanço da história. Mesmo que pareça melhor, dificilmente te deixará satisfeito.
A ideia do NaNoWriMo é desligar esse editor interno que nos obriga a ficar alterando os detalhes passados e nos impedem de seguir adiante. Por isso, a regra principal (não oficial) é: não se pode usar o delete do teclado (e nem o backspace, não adianta tentar usar a retórica). Apagar as palavras é proibido. Reescrever é válido se for necessário, mas deixe o antigo texto lá. Aprenda a se controlar e deixe o clima criativo tomar conta. Dê férias ao seu editor interno e só o deixe voltar quando concluir o texto. Essa é a solução para todos os que nunca conseguiram terminar de escrever um livro, mas adicione um “não desista” nessa regra também.
É bom coletar os espólios
Ver a barrinha roxa com “Winner!” escrito é melhor do que parece. É legal poder atualizar minhas capas das redes sociais com o banner de vencedor (incluindo a imagem da barra lateral deste mesmo blog que vai ficar aí por um tempo). Sinto-me completo e satisfeito por ter conseguido.
Além disso, não posso esquecer que eu de fato concluí um romance. Tenho um texto de mais de 80 mil palavras aguardando minha revisão. Tudo que preciso fazer é voltar lá e organizar tudo. A história já está contada — e essa é uma das partes mais difíceis na profissão de escritor. Mesmo para quem escreve por hobby, é um grande feito concluir um livro.
Aliás, mal posso esperar pelo ano que vem. Já tenho até planos para o próximo evento.
Sim, você pode
Eu cheguei a duvidar que fosse conseguir. Quando escrevi meu livro no meio deste ano (que foi o primeiro que consegui terminar, aliás), eu tinha tudo previamente planejado. Ainda assim, o bloqueio me pegou de jeito e demorei 38 dias pra escrever as pouco mais de 40 mil palavras do texto.
Para o NaNoWriMo, eu quis me planejar bem antes de começar. Quis com muita força, mas não fiz muito na verdade. Durante o mês de outubro, procrastinei criando um mapa, fiquei caçando artigos sobre escrita pra ler, além de qualquer coisa que me tirasse do planejamento do meu livro. Cheguei a fazer uma sinopse da linha principal da história, mas era tão resumida que mal me ajudou (exceto no final, quando vi que o clímax da sinopse estava muito melhor do que eu tinha escrito, então voltei e expandi a cena). Enfim, não sabia como a história iria se desenrolar e achei que isso seria um problema.
Não foi, por mais estranho que me pareceu. Os detalhes foram aparecendo conforme eu fui escrevendo, novas tramas surgiram junto com novos personagens e meus protagonistas passaram por dificuldades que nunca teria imaginado com antecedência. Foi boa a experiência de sentar e escrever sem me preocupar com o plano, pois nunca pensei que acabaria desse jeito (todas as minhas experiências falhas foram assim por falta de plano).
Então, se você acha que é uma atividade desgastante e até impossível, pare de pensar assim. Tente, pelo menos uma vez. É uma experiência que surpreende muitas pessoas. Mesmo que você não consiga as 50 mil palavras, qualquer quantidade já terá valido a pena. Já será mais do que você teria se simplesmente evitasse ou deixasse para quando tiver mais tempo. O evento já está no fim, mas vale se planejar para o próximo e para os “camps”, que são versões mais informais, ainda que mantidos pelos mesmos organizadores e ocorrem várias vezes durante o ano.
Conclusão
Acabei descobrindo que sou capaz de fazer muita coisa (mais do que eu cheguei a pensar)se eu me esforçar de verdade. Isso eu já deveria saber, porém é bom poder provar pra mim mesmo.
Enfim, o que importa é o desafio pessoal. Tanto que o próprio NaNoWriMo nem liga tanto se você escreveu mesmo ou não. Se você trapaceou e colou um texto qualquer lá, o banner vai aparecer pra você. Mas só ganha realmente quem tentou.