Acredito que, como eu, muitas pessoas tiveram algum tipo de ensino religioso durante a infância (mesmo que por osmose). Visto que o Brasil ainda é um país de maioria católica, isso provavelmente é verdade. Minha vó sempre foi muito fervorosa no catolicismo. Já minha mãe se tornou mais fiel quando conheceu a Igreja Adventista do Sétimo Dia (nessa época eu tinha dez anos de idade, o que me levou, inexoravelmente, a frequentar a igreja com ela).
Parei de frequentar quando tinha quinze anos (sim, participei da igreja durante cinco anos seguidos). Só dei essa breve introdução para deixar claro que eu não sou um completo ignorante em matéria de doutrinas bíblicas, como a maioria dos religiosos tende a pensar sobre os ateus. Dito isto, prosseguirei com o assunto principal.
As pessoas costumam dar “graças a deus” por tudo o que acontece. Já é inerente à cultura popular o agradecimento inconsciente a um ser etéreo. Estranho perceber como as pessoas não se dão mérito pelas coisas e costumam acreditar que tudo caiu do céu. Como se o esforço coletivo não fizesse nenhuma diferença para o destino do mundo.
O fato de ter fé em algum ser superior e que isso é a única atividade necessária para receber tudo aquilo que desejar me parece estranho. Principalmente pelo fato de que as pessoas tem fé, mas não recebem tudo o que desejam. Eles acreditam em um deus justo que satisfaz a necessidade dos homens, apesar de estarem sempre insatisfeitos.
Acontece que ainda não recebi explicação sobre o fato de que muitas pessoas passam necessidade nesse mundo e que o tal “ser superior” parece não fazer nada para ajudar. Já ouvi coisas como “eles pagam pelos seus pecados”, mas que pecado tem um recém-nascido? Seria justo culpar a criança pelos erros dos pais? Parece-me que deus é justo, como todos dizem, mas cometem tremendas injustiças.
A realidade é que o conceito do deus moderno é absurdamente egocêntrica e, por extensão, também antropocêntrica. O ser humano acredita ser o centro do universo. Temos tendência a crer que somos especiais e totalmente diferentes das outros milhões de espécies de seres vivos neste planeta e, quem sabe, em outros planetas. O nosso encéfalo superdesenvolvido pela evolução da espécie ao longo do tempo serve para nos sentirmos os mais importantes deste imenso universo.
Esse egocentrismo faz muitos acreditarem que basta pedir algo ao “cara lá de cima” que ele vai tornar o desejo realidade. Porque somos especiais e ele tem de nos atender. E se formos “bonzinhos” temos direito a receber bênçãos sem esforço. Se formos maus, iremos sofrer para pagar nossos pecados (o que, aliás, parece ser o único senso moral dos crentes: se não houvesse inferno, poderíamos cometer todas as atrocidades possíveis). Embora muitas pessoas más se tornem bem-sucedidas e outros que praticam o bem enfrentem uma vida de sofrimentos, esse conceito não parece se alterar. Afinal, nós não podemos saber dos “planos de deus”, certo? Um agnosticismo bem conveniente ao meu ponto de vista.
O ponto é que o indivíduo acredita ser a pessoa mais importante do mundo, como se o universo girasse ao seu redor e o ser superior devesse atender todos os seus desejos. E se faltou algum é porque tem planos melhores para ele. O egocentrismo dá um conforto que a maioria das pessoas necessita. Essa crença de que temos o controle e de que tudo está em nossas mãos nos faz relaxar e sermos felizes. As pessoas precisam acreditar em algo etéreo, ou não há sentido para a vida (como se a vida precisasse de sentido). A perspectiva de uma realidade anti-antropocêntrica (o próprio ateísmo, por exemplo), aparentemente causaria um caso de depressão coletiva, visto que as pessoas perderiam aquilo ao que se apegar; perderiam as esperanças de uma vida melhor e, ao invés de tornar a nossa vida melhor, desistiriam dela. Talvez já tenham desistido, esperando que a próxima vida seja boa.
A questão não é nem que as pessoas abandonem a sua fé no etéreo (afinal, quem sou para dizer o que existe e o que deixa de existir), mas que prestem mais atenção na vida que leva neste mundo. Suas atitudes influenciam a vida dos outros humanos (e, naturalmente, das outras espécies também), além dos nossos descendentes. As pessoas deveriam parar de acreditar, sim, que são os mais importantes do universo; isso é como acreditar que o coração é mais importante do que o pâncreas, embora não seja possível viver se faltar qualquer um dos dois.
Somos importantes, sim, pessoal. Mas vamos parar de nos achar o centro do universo. Esse tempo já passou.
Concordo. E acho que complementa perfeitamente o que escrevi no meu blog mais cedo, embora o meu fosse basicamente um desabafo pessoal.