Desde os primórdios das civilizações o conhecimento é passado de geração a geração. A princípio de pai para filho, depois surgiram os professores e então as escolas. A ciência se tornou algo cada vez maior e as pessoas se viram cada vez mais obrigadas a seguir uma única (ou talvez algumas poucas) área de especialização para que fosse possível avançar o conhecimento dentro da expectativa de vida.
Com a crescente quantidade de informações e também com o espalhar das diversas áreas do conhecimento, aquilo que era essencial foi também evoluindo e terminou por formar um currículo básico de matérias necessárias para um jovem estudante. E todos nós conhecemos isso, pois, imagino eu, que todos nós fomos à escola. E “aprendemos” todo o conjunto de dados presumidos fundamentais para a nossa carreira profissional – e mais: também para nossa vida. Exceto que isso não passa de uma tremenda balela.
Quanto mais fluímos em nossa vida, percebemos o quão inúteis foram as coisas que aprendemos no ensino básico. Falo por mim mesmo: eu não sei nada sobre química, por exemplo, e isso nunca me fez falta. Isso considerando, apesar de ter sempre frequentado em escolas públicas – conhecidas pela baixa qualidade de ensino – captei grande parte das informações, ao contrário da grande maioria dos meus colegas, pelo que pude notar.
E esse problema é causado por um motivo simples: tentam nos ensinar coisas demais. É isso. O resto não importa tanto quanto parece. Não é baixo investimento, não são maus professores e definitivamente não é a inteligência dos alunos (talvez o interesse, mas o sistema só piora isso). O problema é que tentam nos ensinar tudo o que acham que talvez seja possível em algum caso hipotético que porventura precisássemos saber. O que, hoje em dia, não faz mais sentido – fez no passado, porém agora já não faz.
Se hoje eu sei tudo o que sei, não foi por causa de bons professores (e com isso quero dizer que realmente tive alguns bons professores), mas sim porque me interessei em aprender. De fato, até a oitava série eu sabia todo o conteúdo de matemática antes mesmo da professora explicar, pois eu já tinha devorado o livro inteiro. Por melhor educadora que ela fosse, para mim não fazia diferença, porque aprendi sozinho. Faço isso até hoje: quando esbarro em algo que não sei, pesquiso e aprendo.
Pois então, por experiência própria, noto que o sistema educacional (se me permitem usar esta palavra no sentido de aquisição de conhecimento) já está quase que totalmente defasado. Se antes precisávamos saber tudo antemão pro caso de uma eventual necessidade – informação chamada just-in-case – agora podemos esperar ignorantes pelo tal momento e, então, aprendermos já dentro do contexto – informação just-in-time.
Com o avanço da internet e o acesso cada vez mais fácil, tal sistema é totalmente plausível. Com essa rede é possível obter praticamente qualquer informação em tempo real e completamente atualizada. Eu gosto de livros, mas para didática já não funcionam mais; talvez livros de referência funcionem, porém mesmo nisso a internet ainda é superior, pois a referência já pode conter os conteúdos mais recentes.
Além disso, existe o fator colaboração. Por mais que nos juntemos em grupos de trabalho durante o tempo de escola, nada se compara a informação acumulada de bilhões de pessoas ao redor do mundo. E você pode conversar com qualquer uma delas em tempo real e descobrir coisas que nenhum dos seus vizinhos e colegas sonharia em saber. Esse fator pode ser visto em funcionamento na aclamada Wikipedia ou na imensa Khan Academy.
Daí pode-se notar que caminho o modelo de escola deva tomar. Não existe mais a necessidade de nos atolar de informações que não serão plenamente utilizadas. A escola de deveria ter um único propósito: ensinar a aprender. Não precisa de matérias, nem mesmo de um conteúdo, pelo menos nada tangível. Só precisa instruir os alunos nos caminhos que eles devem seguir para aprenderem por conta própria.
Os alunos deveriam ser incentivados a pesquisar e descobrir coisas novas. Além disso, precisariam também ter o estímulo de compartilhar e contribuir com informação, tanto de volta para a rede como também para o seu próprio círculo social. Grupos de estudo seriam uma coisa casual e não uma obrigação enfadonha como é visto hoje em dia. As pessoas aprenderiam desde cedo que não é chato estudar, pois elas fariam isso apenas quando fosse necessário.
Desde cedo, as crianças aprenderiam a decidir o que gostam de fazer; a partir da observação de nosso banco de dados gigantesco. A função do professor seria apresentar o leque de opções de carreiras ao aluno, incentivando-o a seguir a carreira que mais lhe interessa. O ideal ainda seria que pessoas com os mesmos interesses ficassem dentro dos mesmos grupos. Mas aí já vamos pelo caminho utópico (embora ainda realizável, se houvesse esforço nesse sentido).
Acho importante salientar que não duvido que existam coisas que todos devam saber. Por mais difícil que a matemática pareça, ela é uma necessidade para praticamente todas as pessoas. Também se pode incluir o raciocínio lógico, que é em parte matemático. Idiomas e alguns fatos de conhecimento geral são outros pontos – e aqui se encaixa um pouco de geografia e história, incluindo a atual que não é comentada nas escolas. E mesmo dentro dessas áreas imagino que o método de ensino possa mudar.
O fato é que os mecanismos de informação estão mudando – se é que já não mudaram – e sempre que isso acontece existe alguma mudança no sistema educacional, o que ainda não ocorreu. E existem meios para mudar isso, visto que já está mudando parcialmente por si só. A internet já se tornou a fonte natural de conhecimento, agora só precisamos que os professores aprendam a ensinar de uma forma diferente. E eles mesmos podem aprender desse jeito novo, servindo como a própria experiência para o futuro.