Já deixei claro aqui no blog em um post anterior, que sou ateu. Muitos confundem o ateísmo com o niilismo (embora seja pequena, existe, sim, uma diferença), então talvez o termo “agnóstico” soe melhor nesse contexto. O agnosticismo, na verdade, é a conformação com o fato se que nunca saberemos se deuses existem ou não e, apesar de eu concordar parcialmente com este ponto, prefiro imaginar que teremos a resposta em algum momento.
Já vi muitos casos de pessoas que aceitam e suportam determinados sofrimentos em virtude da crença em um ser justo que governa o mundo. “Minha é a vingança [diz o Senhor]”, como a bíblia declara em Deuteronômio 32:35 (reiterado por Paulo duas vezes, aliás, em Romanos 12 e Hebreus 10). Daí está o fato que devemos deixar a justiça – que nada mais é do que vingança, como bem sabiam os gregos – nas mãos de Deus para que ele tome suas providências. “… e a recompensa” o versículo completa (e seria parcial de minha parte não comentar), pois Deus nos daria o que nos era devido e assim nada faltaria.
É bem bonito, eu concordo, imaginar um ser superior que irá nos compensar por todos os nossos atos e injustiças pelas quais passamos nesse mundo. Todavia, ter que engolir calado todas as coisas ruins que nos acontece é um tipo de conformismo que não me agrada. Dizer algo como “foi a vontade de Deus” me parece apenas aceitação de fatos que poderiam, em certo grau, serem alterados por nossas ações.
Existem acontecimentos que estão, de fato, acima de nossa alçada. Se um parente seu morre atropelado, o que você poderia ter feito para evitar? Assim como as consequências de nossas decisões nem sempre estão claras a longo prazo. Se isso tudo é destino, vontade de deus (ou deuses) ou apenas coincidência é impossível dizer. Porém, na verdade, nem mesmo importa a origem ou motivo de tais coisas.
E outros detalhes estão, sim, dentro de nossas capacidades. Ninguém pode culpar a deus por uma nota ruim numa prova, por exemplo. Nem, como é bem menos comum, por uma nota boa. O emprego que você não conseguiu pode ser por falta de qualificação ou experiência e não por causa da decisão de um ser onipotente. Sim, sei que o mercado de trabalho é concorrido, mas isso é só uma desculpa alternativa.
Por esse lado, a fé é muito importante. E não falo da fé em deidades ou destino ou o que quer que seja. Falo da fé em si mesmo. Acreditar no próprio potencial é meio caminho andado para realizá-lo. A autoestima tem um grande papel em tornar as coisas das quais você é capaz em fatos concretos.
Esse tipo de fé eu considero realmente importante. Não importa se você acredita que suplicar a um ser invisível faz diferença, – pode até fazer, quem sou eu para negar – apenas lembre-se de acreditar também em si mesmo.
Tal pensamento me surgiu ao assistir o filme A Tentação (The Ledge). Recomendo assistir, o filme é excelente (até tem no YouTube, mas não vou postar aqui o link por questões de copyright). O filme fala exatamente sobre fé, mas não a fé em deus. Inclusive, o autor é descendente de Charles Darwin e dedica o filme a seu tio e o marido, que formam o primeiro casal homossexual a se casar em Cambridge, na Inglaterra.
Por fim, quero dizer que não importa muito no que se acredita – e no que se deixa de acreditar – mas é importante ter fé em si mesmo. Se alguém acredita em deus, não é estranho crer que deus também está nele mesmo. A autoestima é fundamental para mantermos a ideia de que é possível realizarmos as coisas, além de termos influência, no mínimo, em nosso próprio destino. E, em isso, nada resta senão a estagnação.