Ultimamente, tenho buscado todos os tipos de conselho sobre a arte de escrever. Já vi várias fontes distintas, autores de diversos gêneros, editores e outras pessoas que trabalham na área e quase que unanimemente eles concordam em um conselho: apenas escreva.
Isso significa que você deve sentar e digitar. Só isso. Não há problema se você preferir escrever à mão. Apenas escreva. Não pense no que você está fazendo, não se permita ficar reescrevendo a mesma frase várias vezes. Não fique olhando para a página em branco, apenas escreva. Se você acha que não está bom, não importa, você pode consertar depois. Se não tiver conserto, você pode jogar fora. Sim, eu sei que dói, mas um texto ruim que você tenta consertar é como um membro gangrenando, se você não arrancá-lo fora logo, o resto do corpo começa a apodrecer (bem, foi uma comparação um pouco nojenta, mas é a verdade). Então, você precisa criar membros novos, para que eles não façam falta.
Um dos exercícios mais primários, muito recomendado é: escreva todos os dias. Não deixe passar um dia sem escrever, mesmo que seja apenas um parágrafo. É muito mais compensador digitar duzentas palavras por dia do que arrancar cinco mil durante um domingo. Mesmo que a quantidade seja menor, manter a disciplina ajuda a se acostumar com o processo. E é melhor escrever pouco com a mente ainda fresca do que tentar espremer até a última gota do suco, que terá amargado até lá, de tanto tempo que você gastou com o esforço.
Comecei a ler o livro de Natalie Goldberg, Writing Down the Bones: Feeling the Writer Within (que foi lançado em português como “Escrevendo com a Alma, Liberte o escritor que há em você”), que é uma grande referência no meio, pelo que ouvi dizer. E o primeiro exercício é justamente esse: escreva sem pensar. No livro, a autora narra que muitos alunos começam a chorar quando fazem essa tarefa, pois acabam colocando no papel ideias que evitavam pensar. E ela ainda diz que, mesmo que tais emoções comecem a fluir, continue escrevendo, não deixe o fluxo ser interrompidos. Porque nessas “primeiras ideias” podem surgir coisas que você não esperava, que seu filtro interno teria estragado, tentando consertar. Deixe o filtro trabalhar depois. Guarde uma porção de seu dia para fazer isso, estipule um tempo para se dedicar, mesmo que sejam apenas dez minutos, mas faça todos os dias.
No mesmo livro, Natalie também recomenda trocar de mídia. Use um papel diferente, experimente os tipos de caneta, digite no computador ou numa máquina de escrever (se tiver acesso a uma, aproveite a chance), use até um daqueles grandes blocos de desenho. Isso porque sentimentos diferentes podem aparecer de acordo com a forma que você escreve. E você pode aprender a fazer uso dessas diferentes mídias, assim como ela mesma disse usar caneta para as partes sentimentais e máquina de escrever para as histórias. Tente e veja o que há de melhor para você. Citando Randy Ingermanson, “a única regra inquebrável é que não existem regras inquebráveis”.
Não ligue para o que você já escreveu. Se o parágrafo atual acabou discordando do anterior, não volte para consertá-lo. Não agora, pelo menos. Deixe uma nota no canto da página, dizendo que surgiu uma incoerência, mas não pare para corrigir. Permita que as palavras fluam da mente sem interrupção. Desligue a internet e os telefones. Peça para quem vive com você não te interromper. Apenas escreva, largue o resto do mundo e se concentre apenas no que você está criando.
Sei que muito deste texto é redundante e que falei várias vezes a mesma coisa. No entanto, a verdade é que esse é o melhor conselho sobre escrever que existe e quero que ele fique gravado na mente de quem lê, como um mantra se repetindo frequentemente. Porque escrever, como qualquer arte, tem de ser divertido em primeiro lugar. Se você acha escrever um saco, sinto muito, mas essa profissão não é pra você. A escrita deve ser feita com prazer. Existe, sim, a parte chata: revisar e editar, além do momento inevitável de se desistir de uma ideia que parecia tão boa e não funcionou. Porém, nenhuma experiência em escrever de fato, em botar as palavras uma na frente da outra, é desperdiçada. Mesmo que te ensine um jeito de como não fazer as coisas, você já aprendeu algo de útil.
Hoje, agora, pare o que está fazendo e escreva. Agora.
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Simplesmente excelente. Não há nada mais a dizer, né… Tá tudo aí. É tudo o que você disse.