Enquanto crianças, é normal imaginarmos a existência de um mundo diferente. Um lugar onde super-heróis e vilões existam, onde montemos em unicórnios e fadas e bruxas disputem seus poderes. Um lugar onde é possível voar e a única lei é se divertir. O mais natural é que compartilhemos nosso mundo de mentirinha com nossos amigos. Eu, porém, criava mundos para mim mesmo.
E agora, depois de tanto tempo se passar desde minha infância, penso que devo compartilhar os mundos que crio. Assim como os autores de novelas John Tolkien, George Martin e, por que não, Christopher Paolini. Esses autores foram grande inspiração para eu desenvolver o meu próprio romance e, além disso, incluir um universo fictício bem elaborado.
Entretanto, eu me perguntei, qual o processo para criar um mundo coerente e concebível? Cacei por páginas e mais páginas da internet procurando uma resposta. Percebi que não existe apenas uma conclusão, mas que isso depende do quão real alguém queira que o mundo novo se pareça.
Alguns detalhes históricos, culturais e políticos eu criei simplesmente para encaixar com a época na qual minha história se passa. No entanto, minha primeira preocupação era criar pelo menos um idioma. Uma inspiração total no Tolkien que, aliás, inventou um mundo por causa das línguas e não o contrário. E seria interessante criar uma comunidade fluente num idioma inventado como acontece com o Klingon e, em menor escala, com o Na’vi.
Xofaukü natirokol.
Nisso começou minha busca específica por detalhes linguísticos. Enquanto antes eu pensava apenas em traduzir as palavras do português para uma língua estranha, logo percebi que esse método era falho em vários aspectos e que, no fim, acabaria inventando um código e não um idioma. Eu achei impressionante como uma busca por “how to create a language” no Google leva de cara a melhor e mais recomendada fonte para aqueles que querem aprender o básico de linguística. Uma busca em português com os mesmos termos leva a sites intermediários (Yahoo Respostas e fóruns) que acabam indicando o mesmo Language Construction Kit, minha maior referência (que, por sorte, tem uma versão em português, embora um pouco desatualizada). Isso fez minha língua avançar bastante e, além disso, fiz uma segunda apenas para nomes de pessoas e lugares, sistemas de numeração e contagem de tempo (incluindo um calendário com seus feriados e anos bissextos). O mais complicado nisso, de fato, é criar uma fonte que represente as letras que invento.
Há tempos que já não busco coisas em português, pois uma quantidade muito maior de material está disponível no inglês, que já se tornou um idioma mundial. Sei que existe, sim, algumas coisas em português, mas as melhores informações acabam sendo traduções ou adaptações de fontes em inglês ou outras línguas.
Bem, um planeta deve existir em algum lugar do espaço, girando em torno de uma estrela e, possivelmente, com satélites girando ao seu redor. E para isso ser possível, ou ao menos plausível, certas condições precisam ser satisfeitas em termos astronômicos.
Se a estrelas for muito grande, o calor seria forte demais para sustentar a vida e se a desculpa é que o planeta está distante, acontece que uma distância muito grande da estrela tenderia a formar planetas gasosos (e com anos muito longos) e isso já seria um problema. Estrelas mais frias do que o sol requereriam que o planeta estivesse mais próximo, o que aumentaria o efeito do acoplamento de maré e faria com que existissem dias e noites eternas em cada face do planeta (é possível, porém, considerar que vida existiria no lado claro).
Além disso, o tamanho do planeta deve ser levado em consideração e, em oposição, a densidade, pois essas duas características definem a gravidade do planeta. Por mais que se possa imaginar vida que sobreviva numa gravidade mais branda do que a da terra, será que ela seria suficiente para segurar uma atmosfera (e respirável)? A inclinação do eixo de rotação é responsável, em grande parte, pelas variações climáticas. Porções de água e de gelo também interferem nesse detalhe. A própria velocidade de rotação afeta grandemente as correntes (um planeta com um dia de quatro horas teria ventos absurdamente velozes e correntes marítimas de assustar o mais experiente dos capitães).
“É difícil imaginar um mundo sem mapas”. Essa frase pode levar a duas conclusões possíveis:
1) De um mundo que exista, é estranho pensar que seus habitantes não tenham desenhado mapas;
2) Se um lugar existe e não o conhecemos, é complicado visualizá-lo sem o auxílio de um mapa.
Daí eu encontrei o http://www.cartographersguild.com que é aparentemente o único lugar com um conteúdo efetivamente útil para a tentativa de desenhar um mapa (e foi aí que eu achei o tutorial para criar esse mapa que postei aqui). De fato, esse vai ser um dos maiores desafios pra minha capacidade e é possível que eu acabe deixando tudo sem mapa mesmo (a história ocorre em escala mundial, seria muito trabalho cartografar cada região que aparecer no romance).
Mundos mais complexos (e menos humanos) podem exigir ainda mais pensamento e trabalho nos detalhes para atingir a plausibilidade. Decidir se a vida é baseada em carbono ou não pode acarretar em muitas derivações. Se o alien não tem lábio, é estranho que ele fale um idioma que contenha os fonemas /f/ e /v/. É possível, também, que eles vivam num satélite e não num planeta (e decidir se tal planeta é habitável ou não pode ser interessante). Existem muitos fatores que podem ajudar (ou atrapalhar) a criação de um universo alternativo.
Enfim, esse texto foi pra mostrar um pouco do que é a criação dessas histórias de fantasia e sci-fi que ocorre por debaixo dos panos. A dimensão que esses detalhes acrescentam ao enredo é muito interessante e, além disso, pode satisfazer aquele leitor que gosta de se aprofundar no universo e também o pedante que perceberá que as informações, sejam astronômicas ou gramáticas, são realmente bem baseadas e possíveis.
E esses detalhes parecem ser coisas de malucos (eu sou mesmo chato e perfeccionista para essas coisinhas), mas pelo que pude ver não são poucos os que se interessam por isso. Muitos fazem línguas ou mapas apenas por diversão e outros utilizam isso em jogos de RPG (seja de mesa ou de videogame). Infelizmente, existe pouca informação em português sobre isso, por isso resolvi contar um pouco desse processo e, talvez, possa dar alguns detalhes a mais no futuro pra quem se interessar.
Gostei mt desse tutorial q vc fez e tb curti seu mapa. tb faço mapas na escola quanto estou entediado e as vezes crio coisas bem legais e tenho ate vontade de escrever um livro com tudo q eu imagino, pois tenho mt imaginaçao, mas esse seu post me incentivou a escrever.
Estou criando um mundo.. já criei a religiao, as raças.. bem, praticamente tudo.. só a lingua e o mapa…
Inicialmente seria mais infantilizado ( Ocorreu esta ideia faz uns 5 anos) mas já estou bem grandinho. Tudo tem fundo humano, na verdade, Os nove Divinos já foram humanos ( Dá nossa terra normal) e um ser supremo ( Deus todo poderoso, kk) transformou eles em deuses… Ou seja, tudo tem, mais ou menos, uma base humanoide… até a separação das raças.
os Djins seriam os povos Árabes, os Animâny seriam os Nipônicos, etc etc etc.
Mas eu queria adicionar mais um satélite… ficaria muito estranho?
Eu estou criando um mundo a partir da mitologia moderna, onde Valinor, Nárnia e Westeros fazem parte. Onde posso construir esse mapa? Na verdade preciso de um programa para alterar mapas existentes, como a Terra Média ou Westeros. Onde encontro essa ferramenta?
ótimo texto, parabéns.
Tenho duvidas sobre uma coisa. Criei um planeta onde uma determinada divindade criou tudo e todos, mas gostaria de acrescentar mais planetas, o que fazer?
Tudo depende de você quer fazer, pois a ideia é sua. Você pode fazer com que a divindade tenha criado mais planetas. Ou é outro deus que é inimigo dessa primeira divindade. Enfim, tem inúmeras possibilidades, vai tentando e veja uma que agrada.
Use o QGIS e bitmap binário para produzir mapas. Fica perfeito!
Tenho tudo pronto só preciso achar um meio de criá-lo em imagem. Existe um aplicativo específico?
Depende do que vocês está fazendo. Se for um mapa moderno pode usar algum programa de GIS. Mapas antigos ficam melhor se feitos direto no Photoshop ou GIMP manualmente. Se quer uma renderização 3D vai precisar de um programa de modelagem como o Blender, etc.
No fim não existe programa específico, precisa pegar algum que te ajude a chegar no estilo que você quer.
Ola, há tempos que eu viajo na imaginação e desenho mapas para meus mundos fictícios, inclusive gostaria de começar a escrever um livro ou roteiro usando eles (não custa sonhar), tentei apelar para mitologia em alguns dos mundos, e ciência para outros (neste último tenho dificuldade pois sou fraco em fórmulas e cálculos matemáticos) ideal para a astronomia e a meteorologia de um mundo não mistico, quero saber se para determinar o clima, alem do básico de geografia, (movimentos do planeta em volta de um sol, e de si mesmo, se existe algum logaritmo ou formula para determinar a inclinação do planeta, direção das correntes oceânicas, que definiria estações, o tipo de vegetação em cada local e criar um calendário com duração das horas, dias para este mundo (quem tiver uma ideia me escreva) obrigado
uma inclinação de 70 80 graus rotação de 25 horas ou seja um dia de 25 : 00 mês com 31 dias
Oii, gostaria de saber como poderia prototipar o sistema estelar e a órbita do próprio planeta de forma digital, como fez acima.
Nesse caso eu usei o programa Celestia. Não é bem o jeito mais fácil, porque o programa é feito pra ver astros do mundo real, mas dá pra adicionar os seus próprios dados e fazer a simulação.
Oh, claro. Vou dar uma olhada. Obrigado!