Todos sabiam que José era comum. Comentavam sempre os mesmos assuntos, porque sabiam que ele seguiria a mesma rotina de sempre. A tabela do campeonato, o escândalo no senado, o alvo do sensacionalismo dos telejornais e todas outras coisas comuns. E José sempre foi expert nesses assuntos.
Em casa, assistia o Jornal Nacional e respondia “boa noite” para o William Bonner. Perguntava para a esposa o que havia para jantar. Depois de comer, colocava a filha para dormir, contava-lhe uma história, dava-lhe um beijo na testa e um “boa noite” e saía do quarto. Ajustava seu despertador, praguejando sobre o trânsito caótico das cidades grandes, e dormia.
Em um dos dias comuns, os colegas de José estanharam porque ele não havia saído de sua mesa para bater o ponto e ir embora. Foram olhar o que havia acontecido e se surpreenderam com o que viram. José estava lá, sentado em sua cadeira, com a cabeça no teclado do computador e com a gravata no pescoço, sufocando-o. Seus colegas tentaram ajudar, mas já era tarde demais, José tinha partido dessa para a melhor.
Como é comum nesses casos, eles chamaram a polícia. Apesar da investigação minuciosa, não havia nada para se concluir senão que José havia cometido suicídio. Todos achavam que a rotina o tinha desgastado e acabou culminando nisso.
Sua filha, apenas uma criança, mal compreendia por quê seu pai não voltaria mais e se desabava em lágrimas. A esposa o amava, apesar de ele ser tão comum, e mal conseguia suportar. Os amigos tentavam consolar a família, mas parecia impossível. Ninguém efetivamente acreditava no que acontecera.
E nunca souberam da verdade. José, na realidade, fora assassinado. Todas as pessoas próximas achavam ele bem comum, mas, nos intervalos entre o preenchimento de um relatório e outro, ele aproveitava para atualizar o conteúdo de seu polêmico blog na internet.
Com o número crescente de acessos, suas ideias controversas eram cada vez mais criticadas (o que inlcui elogios e apoios). E com todo o tipo público, alguém que leu os posts não aguentou os pensamentos incomuns de José e decidiu por um fim naquilo. Infelizmente, o único método que ele conseguiu pensar foi o assassinato.
A polícia encerrou as investigações sem descobrir a verdadeira causa da morte de José. E seus leitores até hoje se perguntam por quê ele nunca mais postou no blog.
Sugiro não olhar para trás agora!
Essa vai pro livro! xD
Ninguém podia ser tão comum.
Happy blogoversary!
É o tal do senso comum…sempre burro. E foi muito bem ilustrado. Parabéns!
Beijos