De volta 1

*Este post não tem qualquer relação com o filme “De Volta Para o Futuro”. Só coloquei a imagem porque não achei outra melhor para ilustrar o título “De volta”.
Ultimamente as coisas estão difíceis. Cada vez tenho mais coisas pra fazer e menos vontade fazê-las. Fico vagando pela internet entre uma ou outra coisa nova que acho. Sinto que está faltando algo…
Então resolvi pensar. Digitar um Ctrl+F no cérebro procurando algo que fizesse sentido. E trancado no quarto sozinho e no escuro [Você quis dizer: dormindo], pensei. “Não tenho sonhos”. Talvez fosse isso. Talvez um lucid dream pudesse me ajudar. Pensando pelo lado positivo, também não tenho pesadelos. Na verdade, é muito raro eu ter algum sonho. Não deve ser isso.
“Acho que preciso indexar meu cérebro”. Não, isso ia dar muito trabalho e levar muito tempo. Seria muito pior do que implantar a Web Semântica em toda a internet de uma vez só. Sempre trabalhei nessa bagunça (organizada) não é agora que preciso arrumá-la.
“Quem sabe eu preciso de uma namorada”. É uma possibilidade. Mas provavelmente não é causa dos meus problemas. E, nesse caso, isso só iria me criar ainda mais problemas. “Melhor esperar e deixar acontecer”.
O que pode ser então? O tédio está me matando. “O blog está precisando de posts”. Com idéias, mas sem paciência de escrever. “Vou tocar um pouco de guitarra”. Não estou afim. “Vou dar uma passada no YouTube”. Não sei o que ver lá. “Vou programar”. Isso me lembra a escola. “Acho que vou jogar um pouco”. Está naquela  parte que eu não consigo passar. Até assistir televisão eu tentei, mas não dá.
Não sei mais o que fazer. Literalmente.
Insight. Só tem um jeito de fazer alguma coisa interessante: “Ficar sem fazer nada”. A arte do ócio é desenvolvida desde a antigüidade. Mas não é só isso. Não é só dormir ou ficar parado fazendo nada. Tem que fazer nada direito.
Guardei tudo aquilo que me permitia fazer algo. Aquilo que não guardava, pois sabia que iria usar logo. Coloquei a guitarra e a pedaleira em suas respectivas bags, de um jeito que teria preguiça de tirar porque saberia que teria que guardar de novo (e assim por diante). Coloquei todos os CDs em suas caixas e os organizei alfabeticamente. Tirei, enrolei e amarrei todos os cabos do computador, enrolei e amarrei. Pus o notebook na caixa, com isopor. Peguei uma caixa e coloquei todos os livros e mangás, para que não ficassem à vista. Deletei todos os jogos do celular.
Estava pronto. Apesar do aperto no coração, sabia que era para meu bem.
A primeira coisa importante de se fazer quando se quer ficar sem fazer nada é comer. Mas não uma refeição completa e nutritiva. Algo que faça você sentir fome logo. Algo que apenas “Tape o buraco do dente”. Não precisa ser pouco, só não pode te sustentar.
Depois, é essencial dormir. Há a necessidade de estar bem descansado. Afinal, não se pode cair no sono enquanto faz algo tão importante: nada. O sonho, nessa hora, é opcional, mas no meu caso com certeza não vou sonhar.
Descansado e limpo (tomar banho está implícito nessa coisa toda), posso finalmente iniciar minha sessão de “nadismo” (esse nome é ridículo, não vou repeti-lo).
Daí pra frente, tudo é absolutamente boring. Essa é intenção. Um dia descanso de todas as coisas. Não sei quantas voltas dei pela casa. Nem quantas vezes abri a geladeira (não que eu estivesse sempre com fome, mas só pelo instinto). E a abstinência faz você superestimar tudo que não faz há tempos.
Me cansei. Estava sozinho em casa, então apaguei as luzes, TV desligada, sentei no sofá e respirei fundo. Estava ainda com os olhos abertos, observando coisas que eu nunca tinha reparado antes (sim, no escuro). Parecia que tinha ficado louco, mas isso sempre fui, então está tudo bem.
No fim da tarde, fiquei no quintal e vi o sol se pôr. Na verdade, só vi tudo escurecer, porque não da pra ver o sol daqui, as casas o escondem. Voltei pra dentro e acendi a luz que ilumina o tal quintal. Cheguei ao extremo e arrumei o meu quarto.
Ao fim do dia, o mundo me parecia diferente. E estava louco para checar o Twitter. Mas sou forte e resisti à tentação. Antes que estragasse tudo, ajustei o despertador e fui dormir. “Amanhã tenho que trabalhar”.
Não queria quebrar meu “jejum” com o trabalho e assim que acordei (antes até de tomar café) baixei um jogo qualquer no celular, pra ficar jogando no caminho. E no trabalho há computadores, vocês já devem imaginar o que isso significa. Mas ainda não eram minhas coisas. Tudo bem, o celular é meu, mas o jogo (que já apaguei, aliás) não é daqueles com os quais estou acostumado. Não via a hora de chegar em casa.
E essa hora chegou. Liguei o modem e observei meu roteador conectando (só os LEDs, claro). Cuidadosamente, desenrolei os cabos do computador e os conectei. Peguei o notebook e o liguei à tomada. Arrumei minha guitarra e pedaleira numa posição confortável (=próximo do computador). Pressionei cuidadosamente o botão do PC. Assisti o boot, saboreando cada informação sobre os HDs, memória, CPU, etc. Digitei minha senha e esperei todos os programas carregarem. Com a guitarra no colo, dedilhei cada uma de suas cordas. Depois de esperar o som parar completamente, mandei um “Sweet Child O’ Mine” (ou pelo menos uma parte). Olhei pro monitor, posicionei minha mão sobre o mouse e comecei a clicar. Leitor de feeds, MSN, Twitter, Orkut, Hi5, Livemocha. Ikwa… As redes sociais iam surgindo sem fim… YouTube, Blip.fm… Cada clique ressoava no ouvido. Visual Studio, NetBeans, Eclipse… os IDEs me mostravam os projetos em andamento.
Babando por cada update, minha vontade retornava. Percebi qual o real sentido de tudo isso. Não , na verdade ainda não tem sentido, mas realmente gosto de tudo. Antes achava que não sentiria falta, agora acho que não viveria sem.
Sem levantar da cadeira e ainda com a guitarra no colo, vos escrevo. Uma experiência única, que foi útil pra mim, mas não desejo a ninguém. Dêem valor ao que têm (conselho manjado).
E finalmente estou de volta.
[[exagerado em fatos reais]]

One comment on “De volta

  1. Reply Dalleck dez 14,2008 23:01

    Meu Deus, nunca pensei em fazer isso… na verdade já pratiquei o nud… digo, o nadismo xD mas não com a intenção de voltar e saborear melhor as coisas rotineiras da vida… vou poder fazer muito isso nas férias =D

    Meu nadismo normalmente tem um pouco de leitura de livros empoeirados… nada melhor que isso: leio os livros e ainda fico louco querendo usar o pc, e não enjoo de nada XD

    valeu George, esse post vai ser meu guia de sobrevivência nas férias, ahuahuahua

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