Foi-se o tempo em que a internet era algo minúsculo e pouco conteúdo estava disponível. A vastidão da web hoje é quase inimaginável, com milhões e milhões de sites diferentes. Surgiram as redes sociais e é muito fácil qualquer pessoa conseguir seu espaço nessa imensa rede. Com tantos lugares para as informações se esconderem, acontece com frequência que elas acabem indo parar em vários lugares ao mesmo tempo, mantendo uma grande redundância e se tornando desatualizada (ao menos em um lugar específico) com muita facilidade.
O nosso perfil pessoal é o exemplo mais tangível deste problema. Se você participa de diversas redes sociais, não importa por qual motivo, terá que preencher seus dados pessoais em todas elas. Caso precise atualizar alguma coisa, terá que percorrer todas elas novamente para realizar o processo de edição. E se você também mantem um site pessoal para centralizar seu contato, este se torna apenas outro ponto de redundância.
A perspectiva é que isto apenas piore. Com a quantidade crescente de redes sociais que focam em objetivos diferentes – afinal não dá pra dizer que Twitter, Facebook e LinkedIn são iguais – nos vemos obrigados a percorrer um caminho cada vez maior quando alguma dessas informações precisa ser atualizada. E, por consequência, já está na hora de pensarmos numa solução para isso.
Existem alguns que defendem o uso de sites pessoais ao invés de perfis nas redes sociais (Richard Stallman, aliás, é efetivamente contra o Facebook), justamente para evitar essa redundância e concentrar todos os seus dados em um único lugar. Embora eu entenda este ponto de vista, afinal é muito melhor para te encontrarem em um único lugar, não é viável para a maioria, nem mesmo para aqueles que possuem um espaço próprio na web (como é meu caso), visto que tal site muitas vezes não é tão prático para certas funções como seria uma das redes. Eu, particularmente, não transformaria, e nem embutiria, algo como Twitter neste site (especialmente porque ninguém me seguiria aqui, perdendo todo o propósito).
Existe uma solução (ou meia) para este problema: Microformats. Estes nada são do que uma maneira de estruturar os dados num website de uma forma que programas de computador são capazes de entender. O WordPress, por exemplo, já os utiliza nativamente, permitindo que outras ferramentas – como o Google – possam saber o que é cada coisa. Assim, mecanismos de busca podem saber quem é o autor de um texto e em que data ele foi publicado, independentemente do layout do site.
Microformats (ou outros modelos, como os presentes no Schema.org) podem ser usados com qualquer coisa, incluindo um perfil pessoal. Assim, seria interessante que todas as redes das quais você participa pudessem simplesmente olhar seu site e reproduzir o perfil que encontram lá. Se você quisesse atualizar algo, só precisaria fazê-lo em um único ponto e todos os outros seriam atualizados num efeito cascata. Isso parece mágico, mas é totalmente possível e a tecnologia para isso já está aí. Como um exemplo, se um de meus posts aqui aparecer nos resultados de uma busca no Google, minha foto e um link para o meu perfil no Google+ irão aparecer, justamente porque este blog está estruturado corretamente e o Google consegue entender estes dados.
No entanto, esta solução ainda é não é completa, porque apenas seria possível editar num ponto central, de onde todos os outros recuperam os dados. O ideal seria que existisse a possibilidade de atualizar seu perfil em qualquer lugar, todos os outros seguiriam tal mudança. Sim, pode parecer utópico, porém com um pouco de esforço é plausível.
Para tal solução, seria necessário conectar todas as redes entre si. Poderia ser do jeito fraco: todos conectam a um único ponto central, seja seu site ou um perfil específico a sua escolha; e existe também a maneira mais forte: todos os pontos estão conectados entre si. A segunda opção seria a ideal e apesar de você ter conectar cada rede nova a todas as outras, é factível que você apenas conecte a qualquer uma e daí essas duas conversam pra deixar a nova rede a par de todas as outras conexões. E quando uma fosse atualizada, ela poderia avisar as outras que alguma coisa mudou, sendo que algumas redes poderiam ignorar certas informações (o Twitter não liga para o seu histórico profissional, por exemplo, ao contrário do LinkedIn).
O problema é que tal solução exige um esforço das redes sociais em compartilhar dados com seus concorrentes. E tais redes são empresas, que se importam mais com o lucro do que com a conveniência de seus usuários. Ainda acho uma infelicidade que a tecnologia esteja nas mãos de companhias capitalistas, mas esta é a realidade.
Em suma, apesar de existirem soluções prontas e bem conhecidas (e que seriam facilmente estendidas para contemplar toda essa ideia), enquanto não houver um esforço em direção ao conforto do usuário por parte das empresas da internet, nunca caminharemos nesta direção (que é a mesma da adorável Web Semântica). Teremos de viver nessa redundância de dados e correr por mil redes sociais a cada vez que trocarmos de emprego ou de companhia.