Se imaginarmos a geração de nossos pais, quantas pessoas liam de fato? Sei que minha mãe leu bastante, mas percebo que ela é exceção e não regra. Quando a televisão se popularizou e o telefone era a forma mais conveniente de comunicação, a leitura se resumia aos banners públicos e os rótulos de produtos, visto que não havia incentivo a outras formas de conteúdo.
Por outro lado, a internet trouxe a conveniência do texto. Por ser leve em termos computacionais, era a maneira mais rápida de transmitir informações. Quem se utilizou desse meio de uma forma ou de outra se viu obrigado a ler, já que o conteúdo se apresentava dessa forma.
Por mais que reclamemos da corrupção do português (de outras línguas também, aliás) que ocorreu por consequência das mensagens instantâneas, sem uma preocupação com quão correto a grafia estava, mas apenas com o fato de que a pessoa do outro lado entendeu, temos que admitir que a explosão dos blogs surgiu também na mesma época e pelo mesmo motivo da preferência ao texto.
Claro que, naturalmente, nem todos os blogs se importavam com a correção de seus próprios posts – diria que muitos, aliás, sequer conheciam certas regras da gramática –, porém é possível assumir que os erros nesse sentido eram menos frequentes em textos mais longos (e mais persistentes), também pelo fato de que os leitores costumam indicar determinadas correções.
De qualquer forma, a geração que viu a internet crescer – que é minha, por coincidência ou não – aprendeu a ler com frequência, além de, por consequência, escrever (embora nem sempre com a melhor qualidade). Em comparação com a geração anterior, que se resumia a um contexto audiovisual, saímos ganhando ao menos em termos de leitura.
Todavia, a internet evoluiu, tanto em vastidão quanto em velocidade de transmissão. Com isso, outras formas de conteúdo passaram a se popularizar na rede, permitindo que material multimídia estivesse presente e acessível a maior parte dos usuários. Inerentemente é uma coisa boa: quanto maior a variedade, melhor; porém isso acabou desviando o foco da forma tradicional: os textos.
Em princípio com os podcasts, para onde muitos blogs evoluíram, por parecer a direção certa a seguir (talvez fosse mesmo); em seguida, surgiram os vlogs e um conteúdo popular em vídeo, bastante acessível e atrativo, por sua natureza simplista e mais completa em termos de canais de informação, justamente por ser audiovisual, assim como foi a TV nos tempos de nossos pais, substituindo o ultrapassado rádio.
Assim, hoje em dia qualquer pessoa pode pegar uma câmera, gravar a si mesma falando sobre um assunto qualquer e abrir um canal novo no YouTube. E, convenhamos, é mais fácil e prático de fazer do que abrir o Word e escrever um texto – que é de fato o que faço agora. Escrever é difícil e exige um trabalho manual de digitar, que pode ser enfadonho, especialmente para alguém inexperiente. Agora filmar você mesmo falando sobre um tema qualquer é bem mais simples – as palavras faladas são mais fáceis de articular – e daí basta apenas meia-dúzia de cortes no Windows Movie Maker ou outro software de edição qualquer (isso quando há edição) e botar pra subir; com o restante o computador se vira.
Não que eu seja contra a produção de vídeos, muito pelo contrário: a produção de conteúdo é sempre boa, não importa o formato. Porém essa mídia está de fato matando os blogs de texto (não aqueles de piadinhas, esse sobrevivem pela simplicidade do material), pois é muito mais fácil ouvir e ver do que ler.
Isso é algo que me desmotiva muito a continuar com o blog. Ainda escrevo aqui porque decidi escrever para mim. Contudo, é bom saber que outra pessoa lerá (sim, sei que tem pessoas que leem meus textos e agradeço a vocês) e cada vez mais me parece que eu atingiria um público maior, ou a menos teria mais chances no grande oceano da internet, se ao invés de textos eu produzisse vídeos, mesmo que o conteúdo fosse essencialmente o mesmo. Como toda opinião, quero que a minha seja ouvida (ou lida) e quando percebo essa ausência de público, me faz parecer que o esforço de escrever é em vão.
Na verdade, eu até já tentei criar vídeos, isso ainda numa época anterior aos vlogs – tanto que o chamei de vidcast, em contraste aos podcasts, ao invés de vlog. Talvez se tivesse continuado eu seria conhecido hoje em dia. Isso não me importa tanto quanto possa parecer, mas certamente seria mais motivado se tivesse uma audiência maior. Só que eu gosto de escrever, pois o texto tem um timing diferente, é mais fácil de manter o foco numa ideia e acredito me expressar com mais clareza. Poderia, sim, criar vídeos não muito diferentes dos milhões de vlogs que existem hoje, mas não gostaria de substituir textos por vídeos.
Enfim, eu apenas gostaria que as pessoas lessem mais e melhor. Existe uma infinidade de materiais excelentes que estão (apenas) em formato de textos. É uma maneira muito prática de consumir informações (muito melhor ler no ônibus, por exemplo, do que assistir a um vídeo). Claro que deficientes visuais devem ter sérias dificuldades para ler, considerando que braile é uma raridade (ainda assim, acho que alguns deles “leem” mais do que os que enxergam), mas isto é um assunto a parte. De qualquer forma: leiam mais, por favor.