— Hm… Interessante… – comentou Juliana. – E você continua como integrante dessa tal comunidade hacker?
— Sim – ele respondeu de forma concisa.
— Posso saber qual é o seu nickname hacker?
— Pode, mas não conte para ninguém. Eles me conhecem como TheKrin – Leonardo também soletrou para que ela entendesse melhor.
— Um anagrama de thinker. Foi essa sua intenção ao escolher esse apelido?
— Sim, e você foi a primeira a descobrir a origem – ele não conseguiu esconder o sorriso que soltou por ela ter percebido tão rápido.
Os dois permaneceram em silêncio durante o pouco que restava do trajeto. Ao chegar a seu destino, Leonardo esperou para ver se ela ainda tinha algo a falar. Juliana, de repente, contraiu as sobrancelhas e começou a dizer:
— Olhe, eu tive uma ideia.
Leonardo olhou para ela com o canto do olho, esperando uma conclusão. Ela logo percebeu que ele não perguntaria nada e continuou.
— Você poderia ir dormir lá em casa hoje. Não fazemos isso desde o colégio e precisamos passar mais tempo juntos. O que você acha? – ela o olhou com uma expressão entusiasmada – Aproveitando que hoje é sexta-feira, poderíamos jogar videogame até tarde, assistir um filme, sei lá. E amanhã continuamos nosso projeto.
— Bem, eu não sei – Leonardo estava visivelmente constrangido.
— Ah, qual o problema? Aproveite que você já está aqui e pegue suas coisas. Vamos lembrar os velhos tempos.
Ele soltou um leve sorriso quando se lembrou dos tempos de colégio quando os dois se divertiam juntos. Realmente, faz tempo que não fazemos isso. Divertíamo-nos de verdade, ele pensou.
— Tudo bem. Vou pegar minhas coisas. Você quer entrar?
— Não, obrigada. Posso esperar no carro.
— Tem certeza? Minha mãe vai gostar de te ver; é certo que ela está acordada.
— Ok então, faz tempo que não falo com a Dona Regiane.
Ambos saíram do carro após Juliana desligá-lo. Leonardo abriu o portão e, logo após, os dois entravam na casa. Ele ofereceu-lhe um lugar para sentar, ela logo abriu um sorriso e respondeu que ele aprendia rápido. Leonardo percebeu, pelo som, que sua mãe deveria estar na cozinha e foi até lá chamá-la. Quando o viu, ela logo largou o que estava fazendo para dar-lhe um beijo e um abraço.
— Boa noite, filho. Agora posso dormir tranquila.
— Boa noite, – ele respondeu – mas já disse que não precisa esperar acordada, mãe.
— Eu não consigo dormir antes de você chegar e você sabe bem disso.
— Sim, eu sei. De qualquer forma, Juliana está aqui, quer falar com ela?
— Oh, claro! Que surpresa boa. Ela está na sala?
Ele balançou a cabeça num gesto positivo e ambos foram até a sala de estar. Quando chegaram, Juliana levantou-se do sofá e deu um abraço apertado em Regiane. Leonardo aproveitou a deixa para ir ao quarto arrumar sua pequena mala.
— Estava com saudade da senhora! – Juliana disse. Faz tempo que não nos vemos.
— Sim, é verdade, também senti sua falta. Você deveria passar aqui mais vezes.
— Eu vou tentar, mas a vida anda tão corrida, sabe? Mas verei se consigo dar algumas fugidinhas e passar aqui para cumprimentar a senhora.
— Ah, por favor. Mas o que faz aqui tão tarde?
— Leonardo vai passar a noite lá em casa. Há muito não fazemos isso e pensamos que seria uma boa ideia.
— É uma ótima ideia! Só prometa que cuidará bem do meu filhinho.
— Claro que cuidarei, como sempre fiz.
— Foi um prazer revê-la, mas agora tenho que ir dormir, pois estou morta de cansaço. Boa noite para vocês.
Juliana respondeu ao cumprimento e voltou a sentar-se no sofá, enquanto Regiane subia pelas escadas. Esta última passou pelo quarto de seu filho para dar um último “boa noite” antes de ir para sua cama.
Visto que não caberia na mochila, Leonardo arrumou as coisas em uma pequena mala. Nesta, ele pôs um pijama, um par de chinelos, uma toalha e alguns itens de higiene pessoal como escova de dente, pente e sabonete. Aproveitou para botar, também, seu MacBook e o livro sobre teoria da personalidade que poderia ser útil à pesquisa. Ao terminar, desceu até a sala e pediu desculpas pela demora, mais pela cortesia do que por ter achado que tinha a deixado esperar por muito tempo.
— Não foi nada – respondeu ela. – Eu, provavelmente, levaria muito mais tempo para arrumar minhas coisas. E então, vamos?
Leonardo assentiu com a cabeça e ambos seguiram até a porta. Quando saíram, Juliana foi ligar o carro enquanto Leonardo trancava o portão. Ele foi até o veículo, sentou no banco do passageiro, fechou a porta e passou o cinto de segurança. Juliana soltou o freio de mão e acelerou, dirigindo pelas ruas razoavelmente movimentadas da cidade numa sexta-feira à noite.
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