Juliana se arrumava para saírem. Colocou um vestido azul-claro e uma maquiagem levíssima, a qual estava acostumada a usar quando trabalha, e passou um batom claro, pouco mais vermelho do que seus lábios. Calçou uma sandália de salto não muito alto, apanhou sua bolsa e conferiu o conteúdo. Certificando-se de que não esquecera nada, desceu as escadas e encontrou Leonardo no sofá teclando em seu laptop.
— Você não larga mesmo essa coisa, não é?
— Preciso checar meus e-mails e feeds. E às vezes tem algo interessante rolando no Twitter.
— Tudo bem, mas agora vamos sair. Tem certeza que não há problema em deixar um carro na sua casa?
— Tenho sim. Que problema poderia haver?
Eles saíram da casa e, após Paula trancar o portão, entraram no veículo. Juliana guiou até a casa de Leonardo. Ele saiu e abriu a porta da garagem, para que ela pudesse estacionar o carro. Após desligá-lo, Juliana deixou o automóvel, Leonardo pegou suas coisas no porta-malas e os dois entraram na casa. Encontraram-se com Andressa que estava saindo e cumprimentou Juliana com um beijo no rosto.
— Oi, Juliana, faz tempo que não nos vemos. – ela ignorou Leonardo.
— Oi, Andressa. Tenho andado bastante ocupada, nem o seu irmão eu vejo com frequência nestes últimos tempos.
— Acredite que isso é até melhor para você. A propósito, você está linda. Nunca te vi tão arrumada assim.
— Ah, – respondeu Juliana, encabulada – obrigada. É que hoje vamos sair para nos distrair; o Leonardo e eu.
— Bom para vocês. Eu já estou saindo. Boa diversão, até mais.
— Boa diversão para você também.
Ela partiu e Leonardo subiu até o quarto enquanto Juliana ficou na sala de estar. Ele tomou um banho rápido e vestiu uma calça jeans, uma camiseta preta sem estampa e seu tênis All Star. Desceu as escadas e recebeu um olhar oblíquo de Juliana.
— Ah, por favor, não me arrumei toda para você usar isso, né? – ela disse quando ele se aproximou.
— Não está bom?
— Você deve ter algo melhor. Vamos lá dar uma olhada nesse guarda-roupa.
Ela se levantou, pegou no braço de Leonardo e guiou-o pelas escadas até seu quarto. Abriu o armário e começou a passar pelos cabides.
— Está difícil, você precisa de uma reforma aqui. Eu deveria ter feito isto antes. – declarou.
Leonardo ficou um pouco incomodado por Juliana estar mexendo em suas coisas – coisa que ele detestava que qualquer um fizesse – e sua boca virou um traço enviesado. Juliana pegou um cabide com uma camisa branca e virou-se para mostrá-la. Foi quando percebeu a expressão de seu amigo.
— O que foi? – ela perguntou.
— Não me sinto muito confortável quando alguém mexe nas minhas coisas.
— Você está escondendo algum segredo?
— Não, mas se estivesse você iria descobri-lo. Essa possibilidade me perturba.
— Isso é estranho. Não estou revirando seu quarto, estou apenas olhando suas roupas. Não tem nenhum problema nisso, não é?
— Realmente, não tem problema. Mas ainda assim não vou me sentir à vontade. Pode continuar, vou tentar me segurar.
— Ok. Não vou procurar seus segredos, apesar de saber que você tem muitos. E então, – ela disse, mudando de assunto – o que acha dessa aqui?
— Hm… Não sei.
— Prove.
Ela lhe passou o cabide com a camisa e ficou esperando. Leonardo ficou olhando para ela como se esperasse mais alguma coisa. Juliana demorou alguns segundos para perceber qual era o problema.
— Não me vá dizer que está com vergonha de se trocar na minha frente.
Ele apenas balançou a cabeça.
— Ah, por favor. É só a camisa, qual o problema?
Leonardo hesitou, mas, por fim, tirou a camiseta que usava e vestiu a camisa que Juliana escolhera. Abotoou-a e abriu os braços, esperando o comentário de sua amiga. Ela pôs a mão no queixo, criando uma expressão pensativa, ao analisar o visual de Leonardo.
— Nada mal. – declarou, por fim – Você, por acaso, tem algum outro par de tênis?
Leonardo levantou-se e abriu outra porta do armário, de onde tirou uma caixa. Abriu-a e mostrou o conteúdo para Juliana. Ela pediu para que ele calçasse e foi atendida.
— Gostei. – ela disse – Quando foi que comprou esse tênis? Não me parece muito o seu estilo.
— Minha irmã me deu no meu último aniversário. Na verdade, esta é a primeira vez que o uso.
— Hm… Ela tem bom gosto. Espero que tenha se lembrado de agradecê-la.
Eles desceram as escadas e passaram na cozinha para beber um copo de água antes de partirem. Leonardo apagou as luzes e trancou as portas da casa vazia. Os dois seguiram até a estação Granja Julieta. Embarcaram no trem sentido à Osasco e desceram na estação Pinheiros. Juliana guiou seu amigo até o estabelecimento. Após cerca de vinte minutos eles chegaram ao local.
Leonardo sentiu-se um pouco constrangido ao ver a grande quantidade de pessoas no lugar, já que ele nunca fora fã de multidões. Juliana chamava atenção por causa de sua beleza excepcional e acabava atraindo olhares para seu amigo que a acompanhava. Eles entraram no local e seguiram até o bar. Ela pediu uma Espanhola e os dois conversavam enquanto esperavam o drinque.
— Você sabe que não me dou muito bem com bebidas alcoólicas. – lembrou Leonardo.
— Ah, foi só uma vez. Controle-se e nada de mais acontecerá. Esta noite vamos nos divertir e sei que você não vai conseguir fazer isso se estiver sóbrio.
A moça pegou o copo que o barman depositara sobre o balcão e bebeu um gole. Ofereceu para Leonardo que hesitou em provar a bebida.
— O que é isso? – ele quis saber.
— Vinho tinto, suco de abacaxi e leite condensado. Está uma delícia.
Ele experimentou um pouco do liquido e gostou do sabor. Tomou um gole maior em seguida.
— Ei, vá com calma. – repreendeu Juliana – Isso é doce, mas ainda assim tem álcool.
— Ok, vou tomar cuidado. – ele respondeu – Isso aqui realmente é gostoso.
— Olhe, vamos fazer o seguinte: – sugeria Juliana – nos separamos agora, para não queimarmos o filme um do outro, e daqui a meia hora nos encontramos aqui, tudo bem?
Leonardo concordou em silêncio movimentando sua cabeça. Ele devolveu-lhe o copo e ficou observando-a partir para a pista de dança. Talvez eu possa conhecer alguém interessante por aqui, pensou. Olhou ao redor e notou que uma garota o observava. É possível que ela esteja interessada em uma conversa. Aproximou-se dela e perguntou:
— Olá. Você gostaria de conversar?
— Bem, não conversar. – ela respondeu.
Ela desviou o olhar e mostrou um sorriso insinuante. Leonardo não percebeu a ênfase – ou não a entendeu – franziu o cenho e declarou:
— Ok. Desculpe-me por incomodá-la, então. – ele mostrou um sorriso enviesado e voltou para onde estava.
Acho que nunca vou conseguir entender as pessoas, pensou.
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