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Pensemos um pouco em nós mesmos – Parte 3

   Postado por: George Marques   em Capítulo 5

Leonardo acordou primeiro. Estava esparramado sobre o colchão, deitado de costas e com o braço direito, já dormente, debaixo de Juliana. Ela estava na posição fetal, as mãos juntas pelas palmas sob a cabeça, quase como se estivesse posando. Leonardo olhou para ela, abriu um pequeno sorriso sem dentes e ficou assim por uns segundos. Tentou tirar o braço debaixo dela, mas logo percebeu que não conseguiria fazê-lo sem despertá-la.

Ele olhou para o teto e ficou nessa posição por alguns minutos, pensando, antes que Juliana acordasse. Ela se mexeu um pouco e apertou as pálpebras antes de abri-las.

— Bom dia. – ela disse. Ele respondeu e ela continuou – Que horas são?

— Acho que são um pouco mais de dez horas. Você se incomodaria de se levantar?

— Hoje é sábado, dia de ficar um tempo deitado depois de acordar.

— Tudo bem, mas pelo menos me deixe tirar o braço debaixo de você. Se é que ainda existe braço, já que não estou sentindo-o.

Ela soltou um pequeno riso pela piadinha dele.

— Ah, me desculpe.

Ela ergueu-se um pouco, sustentando a cabeça com o antebraço; o cotovelo apoiado no travesseiro. Leonardo puxou o braço direito com dificuldade e dor. Ficou abrindo e fechando os dedos para ajudar a circulação sanguínea. Voltou a olhar para o teto. Juliana manteve a sua posição, contemplando as feições de seu amigo.

— Café-da-manhã? – ela perguntou, após alguns minutos.

— Café-da-manhã. – ele concordou.

Os dois se levantaram e desceram até a cozinha. Ele sentou-se à mesa enquanto ela preparava sanduíches não muito diferentes dos quais comeram na noite anterior. Juliana preparou, também, uma limonada após deixar o desjejum sobre a mesa, juntou-se a Leonardo sentando-se ao seu lado. Ambos comeram em silêncio.

Leonardo ofereceu-se para ajudar a lavar a louça, mas Juliana não aceitou, por mais que ele insistisse. Ele, então, voltou a sentar-se, aguardando ela terminar. Quando tudo estava pronto, os dois foram para a sala de estar.

— Vamos começar? – ela perguntou.

Ele assentiu com a cabeça. Juliana foi até o quarto para pegar seus materiais e Leonardo a acompanhou, pois também tinha coisas a buscar. Desceram novamente e se acomodaram no sofá para discutirem como iriam trabalhar.

— Antes de começarmos – proferiu Leonardo – eu queria dar uma olhada no seu computador.

— Por quê? – quis saber Juliana.

— Pretendo verificar as condições de segurança. E fazer dele uma fortaleza que ninguém consiga invadir.

— Ok. Você e sua preocupação exagerada com informações. Qual computador vai olhar? O meu notebook?

— Na verdade, olharei os dois. Mas posso começar com o laptop.

Ela transferiu o aparelho de seu colo para o dele. Leonardo o ligou e esperou a sequencia de iniciação se completar. Olhou para ela com uma expressão repreendedora:

— Como assim você não tem senha de logon? É a primeira medida de segurança a se tomar, ainda mais no computador que você carrega por aí. Imagino que você não tenha firewall?

— Uso o firewall do Windows – ela respondeu.

— Exatamente – ironizou Leonardo.

Ele abriu um programa navegador de internet e digitou um número IP na barra de endereços. O software redirecionou para um servidor FTP – um local para armazenamento de arquivos online ­– e ele baixou alguns executáveis. Leonardo ficou vários minutos instalando aplicações para reforçar a segurança, incluindo o navegador An0nym5urf, o qual ele recomendou que ela usasse quando precisasse se comunicar com ele. Repetiu os procedimentos no computador de mesa.

— Pronto. – ele disse após vários minutos – Você já pode ficar mais tranquila ao armazenar informações importantes aqui.

— Ainda continuo achando que é exagero, mas proteção nunca é demais. Vamos, enfim, ao trabalho?

— Sim.

— Por onde começamos?

— Precisamos definir uma metodologia – argumentou Leonardo.

— Sim. Basicamente, vamos garimpar as características de várias teorias diferentes. Daí, vamos separar essa lista por categorias e definir uma teoria da personalidade extensa, porém bastante completa. Que tal definir um cronograma? Não temos prazo, mas seria interessante programar as coisas.

— Boa ideia.

Os dois continuaram discutindo por algum tempo, elaborando metodologia e cronograma, assim como dividindo tarefas. Ao acabar, já estavam com fome e resolveram almoçar.

— Não tive tempo de preparar algo legal para comer. Só tenho alguns congelados. Se preferir, podemos ir almoçar em algum lugar.

— Eu não faço questão de nada especial – respondeu Leonardo.

Após preparar a refeição no forno de microondas, os dois foram até a sala de estar e instalaram-se no sofá. Juliana, mais uma vez, lembrou Leonardo para evitar a sujeira. Assistiram um episódio de uma série de sitcom que passava no momento. Ao terminarem, levaram os pratos até a cozinha e Juliana recusou outra vez a ajuda de Leonardo em relação à limpeza. Ele sentou-se à mesa da cozinha enquanto esperava.

— Sabe, – Juliana começou, após terminar o que fazia e sentar-se de frente a Leonardo – estou pensando em uma coisa: ultimamente só vivo em função do trabalho e da escola; não tenho mais tempo para mim. Preciso sair, conhecer gente nova, me divertir e esquecer das preocupações por um segundo. Poderíamos ir a algum lugar hoje à noite. Ouvi falar de uma balada que parece ser bacana.

— Não, obrigado. – respondeu Leonardo – se quiser ir, não me importo, mas não é o tipo de lugar que costumo frequentar.

— Ah, até parece que eu vou sozinha. Faça um esforço. Por acaso já esteve num lugar desses?

— Não, nunca estive. Porém não preciso ir para saber que não vou gostar.

— Vamos, por favor. Não tem nada de errado nisso, de repente você até acha interessante. Pode paquerar umas gatinhas por lá.

— Não sei, talvez você tenha razão. Mas você não precisa ir comigo. Não tem alguma amiga a quem possa chamar?

— Na verdade, não. As garotas que conheço são tão fúteis que não consigo manter um diálogo com elas por mais do que alguns minutos. Exceto a Brenda. Sei que você não gosta dela, mas é uma pessoa legal.

— Não confunda as coisas. – quis esclarecer Leonardo – Para mim é indiferente. É ela quem não gosta de mim.

— Ok, que seja. De qualquer forma, ela tem namorado e eu vou acabar ficando sozinha por lá. Por isso você seria ideal: se precisarmos fugir de alguém, temos um ao outro. Podemos fingir que somos namorados, se for o caso.

— Tudo bem, eu vou. Só porque é com você.

— Ótimo! Obrigada Leo. Vamos ter que passar na sua casa para você pegar uma roupa decente, se é que tem alguma.

Voltaram à sala e continuaram trabalhando no projeto. Acomodaram-se no carpete do piso. Alguns livros e artigos estavam espalhados ao redor, enquanto eles liam um a um, anotando as características de cada teoria da personalidade para, posteriormente, construir sua própria teoria.

Este texto foi postado quarta-feira, 24 de abril de 2013 às 10:00 e arquivado como Capítulo 5. Você pode acompanhar as respostas a esta postagem no feed RSS 2.0. Você pode, também, deixar um comentário no formulário abaixo.

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