Quando Leonardo acordou era cerca de cinco horas da manhã. Tudo estava bastante escuro, mas ele não precisava de luz para perceber que Juliana estava deitada ao seu lado e o abraçava. Ficou olhando para o teto branco por um tempo. A garota se mexeu um pouco e acordou em seguida.
— Está sem sono? – ela perguntou, ainda com a voz um pouco enrolada.
— Por que você… – Leonardo estranhou sua repentina dificuldade em falar – por que você está aqui? – concluiu, sentindo seu coração acelerado.
— Você não gosta de ficar perto de mim?
— Não é isso, é que… você está perto demais.
— Leonardo, nos conhecemos há tanto tempo – ela começou afagá-lo levemente em seus cabelos – e nos damos tão bem um com o outro. Mal precisamos falar, já percebemos nossas intenções só com um gesto ou olhar. Estamos sozinhos, eu e você, não precisamos continuar assim. Você não acha que deveríamos…
— Não. – interrompeu Leonardo – Eu não acho que devêssemos ficar juntos. Já disse isso pra você uma vez e não mudei de opinião.
— Tem certeza? Estamos aqui, Leo, nós dois; apenas nós dois. Somos tão parecidos e tão diferentes. Somos perfeitos um para o outro e ficaremos juntos para sempre. Afinal, você não gosta de mim?
— Juliana, – finalmente ele virou-se para olhá-la – Eu gosto de você, eu amo você e te considero como uma irmã. Nós somos excelentes amigos, e vamos mesmo ficar juntos para sempre, mas seríamos péssimos namorados, não daria certo. No entanto, eu entendo o que está acontecendo: você tenta ser forte como eu. Aprendi cedo a lidar com meus sentimentos e posso ficar sozinho por quanto quiser, mas você, Ju, não é como eu. Você precisa de alguém. Eu não sou tão solitário quanto pareço e você não deveria tentar ficar só. Você sente falta de alguém e eu sou só quem está mais próximo, mas qualquer um pode te curar de sua carência. Não passe dos seus limites. Você pode ficar com quem quiser, sua beleza atrai qualquer um, e por isso você foge e acaba ficando sozinha. Mas isso não está certo. Deixe as coisas acontecerem. E saiba, também, que não sou tão forte quanto pareço.
Os dois continuaram olhando-se por um tempo. Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto de Juliana.
— Eu posso ficar com quem eu quiser – respondeu Juliana – exceto com você. Por alguma estranha brincadeira do destino, tentei conquistar justamente a única pessoa que não conseguiria. Quem é você, Leonardo? É diferente de todo o resto do mundo. E sempre tem razão. Sinto-me sozinha, mas tenho medo de me envolver com alguém. Você é o único que eu tenho certeza de que não me magoaria, por isso pensei que seria a pessoa ideal. Mas, como sempre, você tem razão: eu preciso de alguém. Preciso relaxar um pouco, aliviar a tensão. Desculpe-me, Leo, eu não deveria ter feito isso. Vamos dormir.
Ele logo percebeu que Juliana não tinha a intenção de voltar para sua cama, pois ela continuou abraçando-o e se ajeitou aproximando-se ainda mais. Ele abriu um sorriso e também se acomodou, retribuindo o abraço. Ambos dormiram muito bem.
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