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fev

Quem você realmente é? – Parte 1

   Postado por: George Marques   em Capítulo 3

Juliana ligou o carro e seguiu até sua casa. Estava pensativa. Lembrou-se dos momentos que passara junto com Leonardo. Ela conseguia fazê-lo rir, o que não era algo fácil. E ele também lhe arrancava alguns sorrisos de vez em quando. Ela recordou-se, também, das brigas. Sim, haviam discutido algumas vezes. Ela se exaltava e levantava a voz, ele apenas ficava ouvindo, irredutível e, em seguida, apontava seu argumento de forma calma e precisa. Não entendia como ele podia ser tão equilibrado e manter a tranquilidade mesmo nos momentos mais tensos.

Ela sabia que ele dependia dela. E ele sabia que ela dependia dele. Perguntava-se se, de alguma forma, ele tinha algum outro interesse nela. Ele já dissera que não queria estragar a amizade com um namoro. Mas, no fundo do coração, será que ele queria outra coisa? Nunca o vi com alguma mulher. Será que ele era solitário? Ele nunca havia contado nenhuma experiência desse tipo, mas ele não costumava contar o que quer que fosse. Se ela não perguntasse, ele não diria. Acho que já temos intimidade o suficiente para que eu pergunte tal coisa.  Ficara curiosa. Perguntaria na próxima vez que se encontrassem, e que, provavelmente, seria no dia seguinte.

Leonardo entrou em casa e encontrou sua mãe na cozinha. Ela nunca dormia antes que ele chegasse. Ele a cumprimentou com um beijo no rosto e ela foi para seu quarto. Leonardo não sentia fome, então apenas bebeu um copo de suco antes de se deitar. Quando puxou do bolso seu celular para ver se havia algum e-mail, percebeu que um pedaço de papel caíra no chão. Olhou pausadamente para este e decidiu anotar o número de telefone em sua agenda. Informação nunca é demais, pensou. Vestiu seu pijama, dobrou e guardou a roupa que usara. Foi para a cama e dormiu em poucos minutos.

Na manhã seguinte, Leonardo acordou às oito horas. Levantou e seguiu seu ritual matinal de consumir seu desjejum acompanhado as notícias pela internet. Vamos lá, pensou. Agora tinha muito trabalho a fazer, já que seu novo projeto demandaria muito esforço. Em seu MacBook, abriu um navegador web que não armazenava dados como histórico ou cookies, além de conectar através de uma cadeia de proxies, os servidores que ocultavam a localização do usuário. Leonardo ajudara a programar certos trechos do An0nym5urf, o tal navegador, apesar de ele não aprovar o nome.

Então, ele digitou um número IP, um endereço na internet, de cabeça. Apesar de ser uma sequencia de trinta e dois números hexadecimais sem muito sentido, ele tinha decorado após algum tempo acessando frequentemente. Surgiu, então, na tela um formulário para login, onde ele digitou o nome TheKrin e uma senha comprida. Uma mensagem de erro apareceu e ele clicou no botão “Ok”. Digitou uma senha diferente e obteve acesso. Na verdade, ele não digitara a senha incorretamente, mas o sistema solicitava uma senha dupla para segurança. Na página que se abriu, ele clicou em link onde se lia “<|-|47”, que era a transcrição de chat, ou bate-papo, na linguagem Leet, criada nos tempos primórdios da internet.

Observou que havia apenas três usuários on-line, o que era até comum naquele horário. Com sorte, achou quem ele estava procurando, que geralmente não acordava tão cedo, ou talvez nem tivesse dormido. Clicou então no nome Bee e uma nova janela se abriu e ele começou a digitar.

TheKrin: Oi, Bee

Bee: Está madrugando agora?

TheKrin: Eu sempre acordo cedo, você é quem nunca está on-line. Nem deve ter dormido.

Bee: Acordei às duas da manhã, ainda não estou com sono =P

TheKrin: Você vai morrer cedo se continuar com esses horários malucos.

Bee: Como se você se importasse. Pra você falar comigo deve estar querendo alguma coisa, desembucha logo.

TheKrin: Por que acha que sou interesseiro?

Bee: E não é verdade? Quer dizer que não quer nada?

TheKrin: Preciso de um favor seu, mas também quero saber se você está bem.

Bee: Estou bem, sim, na medida do possível, mas para de enrolar e diga logo o que quer

TheKrin: Nada de mais, só queria que você checasse a segurança do meu Mac.

Bee: E você vai me pagar dessa vez?

TheKrin: Ah, só vai gastar alguns minutos do seu tempo. É um favor entre amigos.

Bee: Sim, sempre é isso. Ok, mas da próxima eu quero receber. Em dinheiro. Você está usando o A5?

TheKrin: Claro.

Bee: Então é impossível eu acessar. Satisfeito?

TheKrin: Não. Vou te mandar meu IP e aí você poderá brincar.

Leonardo copiou e colou seu endereço IP na janela do chat. E esperou enquanto Bee tentava seus métodos de invasão de computadores. Tomou um gole de seu suco. Após alguns minutos, ouviu o som que indicava alguém tentando se comunicar.

Bee: Está aí?

TheKrin: Sim. Como foi?

Bee: Cara, você tem uma fortaleza.

TheKrin: Isso é bom. Obrigado pela ajuda.

Bee: Obrigado nada, vai ficar na sua conta.

TheKrin: Ah, como se você não me devesse nada.

Bee: Isso depois a gente resolve. Mas por que está tão preocupado com a segurança? Não vai fazer nenhuma besteira, né?

TheKrin: Não. É um projeto secreto, não posso deixar nada acessível

Bee: Vai me contar o que é?

TheKrin: Não. Pelo menos não por enquanto.

Bee: Ei, você tem que vir aqui buscar seu pen drive.

TheKrin: Estou ocupado.

Bee: Ah, com seu “projeto secreto”? Não sei quando isso vai acabar, não quero ter nenhuma pendência com você.

TheKrin: Por acaso isso é um pretexto?

Bee: Claro. Estou me sentindo só…

TheKrin: Hm… Preciso de uns 40-50min pra chegar aí…

Bee: Eu espero.

TheKrin: Eu sei que você espera, mas eu não estou com vontade de fazer tal percurso.

Bee: Ah, mas você sabe que vai gostar…

TheKrin:… Ok. Mas agora não te devo mais nada.

Bee: Isso não vale… Ok, estou te esperando

Este texto foi postado quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013 às 10:00 e arquivado como Capítulo 3. Você pode acompanhar as respostas a esta postagem no feed RSS 2.0. Você pode, também, deixar um comentário no formulário abaixo.

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