“Minha ideia é boa?” — A insegurança na escrita 2

Participo de alguns grupos de escrita no Facebook, assim como alguns subreddits, e vejo uma constante que se repete em todos os lugares: algum participante publica uma proposta de ideia, sinopse ou pitch, e pergunta se é uma boa proposta. Vejo tanto que resolvi falar sobre o assunto.

Insegurança

Esse fato recorrente tem a ver com a insegurança. O autor quer saber se uma ideia vai funcionar antes de dedicar seu tempo a ela. Ele quer a aprovação de um público, a certeza de uma audiência, pois se não houver, é mais compensador desistir e tentar outra coisa. E é comum que um iniciante – em qualquer área – seja bastante inseguro.

Porém, ninguém precisa de “aprovação” para seguir e trabalhar numa ideia. Se você está querendo agradar muitas pessoas, não queira, pois não vai funcionar. Vai acabar frustrando tanto a si mesmo quanto ao público.

“Escreva para agradar apenas uma pessoa. Se você abrir uma janela para fazer amor com o mundo, por assim dizer, sua história pegará pneumonia.” — Kurt Vonnegut.

Insegurança

Nenhuma ideia é ruim – nem boa

Outro detalhe que muitos parecem ignorar – e que pode até chocar muita gente – é que a ideia não importa. Aspirantes a escritores tendem a tentar criar capas, propagandas, blurbs, pitches (estes dois últimos muitas vezes são chamados de “sinopse”, mas não são) e outras coisas que chamam a atenção das pessoas. Se você é um aspirante a escritor, escreva, não tente ser um aspirante a publicitário — por mais que seja importante, a escrita ainda é muito mais.

Você pode ter a melhor ideia do mundo, mas não adianta nada se não souber aproveitar. Da mesma forma, por mais que sua ideia pareça banal e clichê, poderá ser um ótimo enredo se souber como construí-lo.

Nisso também entra a diferença entre história e enredo. Uma história é uma sequência contínua de eventos em ordem cronológica. O enredo é o recorte de uma história, mostrando apenas algumas cenas e a ordem não necessariamente precisa ser a mesma. Se um autor não souber recortar, mesmo a melhor história se tornará um enredo ruim. E vice-versa.

Escreva primeiro, venda depois

Acredito que o principal erro de um escritor iniciante seja querer vender algo que não está pronto. Pois se você nunca vender nada, não significa que é um escritor ruim, mas apenas um péssimo vendedor.

A única maneira de melhorar suas habilidades é com a prática (bem, e o estudo também, pois teoria é importante). Já é difícil conseguir um texto bom ao terminar o primeiro rascunho, então não tente fazer isso antes de sequer começar a escrever.

Algo que também é comum são as publicações de começos de histórias. E isso também entra no mesmo argumento: tentar vender algo que não está pronto. Além do mais, começos de textos – especialmente em histórias mais longas – não costumam dizer muito sobre o rumo da história e geralmente não são informação o suficiente para saber se autor escreve bem, nem mesmo do ponto de vista gramatical.

Sem contar que depois de muito tempo martelando uma mesma ideia, ela irá mudar e se moldar numa forma mais concreta. Muitas vezes algo totalmente diferente da ideia original. A mente humana é fluida e inconstante, não dá para confiar que manterá a mesma opinião por muito tempo. A ideia se solidifica muito depois de nascer.

Conclusão

Ainda que o autor iniciante sinta-se inseguro de continuar uma ideia, a única coisa que se pode fazer é escrever. Não procure permissão para começar a desenvolver uma ideia: você não precisa. Apenas escreva o que tem na sua cabeça e depois de pronto – ou ao menos depois de um bom tempo investindo na ideia – veja se está bom ou não. Somente aí pergunte aos seus amigos. E mesmo assim, ainda existe a possibilidade de melhorar a ideia, em vez de simplesmente jogá-la fora.

Então, para quem ainda está na incerteza se deve escrever uma certa ideia, fica o conselho mais dado por todos os escritores: “apenas escreva”.

2 thoughts on ““Minha ideia é boa?” — A insegurança na escrita

  1. Reply Bia jan 20,2014 20:23

    Gostei muito desse post, conseguiu me ajudar com minha “crise existencial versão literária” hahah tava precisando

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